Bom, acho que devo desculpas a todos pela ausência de 2 semanas do blog, ainda que tenha sido ocasionada por um bom motivo! Eu estava/estou doente, e tenho ficado pouco tempo no computador devido a dores de cabeça. No tempo que usava, estive garimpando antigos contos, jogos e passagens com meus personagens, reformulando histórias e cenários, para reapresentá-los aqui em uma ótica mais limpa. Muitas vezes quando se escreve, o lixo vem junto com a imaginação, e a quantidade absurda de gafes que se comete, em apenas 3 páginas de word, chega a ser enlouquecedora. Mas chega de falar de besteiras, vamos aos contos, e como diz o título, hoje lhes trago meu Espanhol Lunático, senhor Juarez Mendes, na primeira parte de suas histórias "O Baile das Ilusões - Parte I".
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Escuro. Nada mais existia além do escuro, do frio, do silêncio, do vácuo. Nada podia sentir, fazer, respirar. Estava atado a um pesadelo de sombras há tanto tempo que se libertar dele se tornara muito mais que um sacrifício, muito mais que uma missão de fim inconcebível ou inestimável. Se libertar das trevas que o ocultavam desde sua derradeira morte, sob as mãos da temível inquisição, se tornara inviável, e nada que fizesse o libertaria do fim que lhe fora presenteado, a dádiva de morrer pela eternidade. Abriu os olhos vagarosamente, absorvendo cada réstia de luz que existia ao redor, cada luminária velha, cada farol, cada cigarro, cada flash do mundo moderno lhe marcando a íris escura, de um marrom intenso e triste, pálido, ameno, tão enfadonho quanto o seu próprio dono.
Ver aquelas luzes lhe fazia lembrar a luz maior que vira em seu leito de morte, o seu berço do despertar. Remoia aquela dúvida por séculos, jamais chegando a uma resposta, era o famoso túnel que vira, ou apenas a fatídica e enfadonha luminosidade do último Pôr-do-sol de sua vida? Entrou no lugar, a despeito de qualquer outra razão que tivesse para ali não pisar, estufando o peito de homem mirrado que era, querendo em vão um pouco da atenção que lhe fora negada tantas e tantas vezes. Um louco entre os normais, um vírus doentio desde a Idade Média, o filho da discórdia, o enviado do diabo. Eram tantas as alcunhas, que já perdera a vontade de enumerá-las, de lembrá-las, eram todas partes de um passado oculto por trás daqueles olhos, e tudo não passava de um doce e ameno pesadelo, que ele queria nunca mais ter de lembrar.
O nariz largo e arredondado na ponta lhe denunciava a origem Espanhola, a pele bronzeada naturalmente, ainda que doentiamente pálida dava-lhe ainda mais precisão a sua descendência. Olheiras vincadas e profundas, como que saídas de um filme de terror, lhe emolduravam os olhos grandes e redondos, os cabelos mal cortados lhe denunciavam, junto às roupas, uma origem medíocre, ou então total desleixo pela aparência. Os cabelos eram lisos, sujos, escuros como o breu que acompanhava seu espírito, caindo até abaixo das orelhas, vagarosos e pesados, como se nem eles mais quisessem pertencer a aquela eternidade hostil e nojenta. Era muito pequeno em estatura, pouco passava de um metro e meio.
Ostentava um peito largo e uma capacidade muscular bem alta. O peito era coberto por uma camisa pólo, amarela, extremamente desbotada e fina, como se a muito não largasse daquele corpo em que os anos passavam com indiferença. Nas pernas uma calça jeans azul, tão surrada e maltrapilha quanto a camisa. E nos pés um tênis velho da “Fila”, modelo anos 80, preto.
Resmungou um pouco antes de se sentar ao balcão, deixando os ombros caírem distraidamente por sob o corpo, como se não agüentassem mais o peso dos anos. Soltou um breve som, algo que lembrava estranhamente o coaxar de um sapo, muito alto e sonoro, só então se encaminhou ao garçom, que o olhava de maneira intrigada e levemente desprezível. – Pois não senhor? – perguntou o garçom educadamente, fazendo seu trabalho de forma comprometida, ainda que ansiasse por estar lá fora, fumando um de seus bons cigarros, e comendo qualquer puta que lhe aparecesse na frente.
Sim, Juarez Mendes sabia! Apesar da aparência de quarentão, era um homem sábio e muito vivido, e aproveitava de toda a experiência para ganhar a vida dando conselhos desajeitados, e muitas vezes enganosos, a eterna briga por uma bola de dinheiro que insistia em não parar em seu bolso. – Me vê uma cerveja, bem gelada, e anota porque hoje eu não pago. – disse distraidamente ao garçom, a voz roufenha ecoando na taverna toscamente iluminada e mal freqüentada.
O garçom o olhou com cara intrigada, e só então, depois que Juarez arremessou um bolinho de papel na mesa, foi que o mesmo consentira em lhe servir a bebida. Olhou ao redor brevemente, coaxando, ou assim parecera, uma vez mais, antes de receber a bebida estupidamente gelada, em um copo suado e lacrimejante.
Não iria bebê-la. Não estava com vontade e nem disposição para beber, apenas queria uma companhia para suas mãos frias, alguém que também estivesse morto como ele, e nada melhor, que um pouco de bebida para lhe ajudar naquele momento tão difícil. Afinal, não era ela a causa mortis mais bela que conhecia?
Viu seus três “amigos” se aproximarem, tomarem acento e se acomodarem de forma a se preparar para o espetáculo. Estava iniciado ali, mais uma rodada de loucuras, e esta, na conta do espanhol. Todos pareciam ansiosos por saber um pouco mais do cainita mais antigo entre eles, todos exceto Hugo, que parecia imerso em sua juventude perdida, e também imerso em medo quanto ao que poderia ouvir a partir daquele momento.
Juarez recostou-se brevemente em sua cadeira, então eles queriam que ele lhes contasse a sua história, a história que tentava guardar de si mesmo há tanto tempo... Olhou as roupas surradas que carregava no corpo, o copo de bebida já quente em suas mãos, e a vontade louca de viver que pulsava em suas veias mortas e destruídas pelo tempo que o castigava.
Sugou brevemente o ar que não mais preenchia seus pulmões, e o expeliu, como uma simples e bucólica lembrança dos primeiros anos de sua existência no mundo cruel que descobrira ser aquele antro. Jogou-se a frente, encarando o francês, fundo naqueles olhos azuis. Passou brevemente pelo alemão, que de forma alguma lhe chamava a atenção, apesar da repulsa eminente que possuía por aquele jeito e ar de superioridade que o demônio carregava. E por último, fitou o britânico, com uma vontade louca de lhe cuspir no terno caro, e na carteira lotada de dinheiro roubado do bolso de todos que já lhe cruzaram o caminho.
- Vocês são vermes, da pior espécie, vocês brincam com a maldição que os assola como se brincassem de faz-de-conta quando tinham oito anos de idade. Desagrada-me dividir a mesa com vocês, e soy muy vivido para perder mi tiempo con ustedes. No entanto, como vocês têm sido companheiros inestimáveis para boas conversas, lhes cederei à história de minha vida, por mais longa e enfadonha que seja. Julgo por bem chamarem o garçom agora, pois não terão tempo mais esta noite, a história será longa, demorada, e vai lhes custar mais do que atenção para assimilá-la em sua magnitude e importância. E esta também explicara do que sou capaz, tudo que já fiz, e tudo aquilo que jamais irão conhecer de mim. Julgam a si mesmos como monstros, pois bem, eu lhes mostrarei a besta encarnada, ainda que sob meu total e impiedoso controle.
Uma vez mais ele se recostou, e como um entediado narrador, começou lentamente a desfilar os fatos, as nuances de seu passado frio e impiedoso, ao qual ele fora vítima desde o princípio, e só depois de anos, conseguira traçar seu caminho para a liberdade.
Ver aquelas luzes lhe fazia lembrar a luz maior que vira em seu leito de morte, o seu berço do despertar. Remoia aquela dúvida por séculos, jamais chegando a uma resposta, era o famoso túnel que vira, ou apenas a fatídica e enfadonha luminosidade do último Pôr-do-sol de sua vida? Entrou no lugar, a despeito de qualquer outra razão que tivesse para ali não pisar, estufando o peito de homem mirrado que era, querendo em vão um pouco da atenção que lhe fora negada tantas e tantas vezes. Um louco entre os normais, um vírus doentio desde a Idade Média, o filho da discórdia, o enviado do diabo. Eram tantas as alcunhas, que já perdera a vontade de enumerá-las, de lembrá-las, eram todas partes de um passado oculto por trás daqueles olhos, e tudo não passava de um doce e ameno pesadelo, que ele queria nunca mais ter de lembrar.
O nariz largo e arredondado na ponta lhe denunciava a origem Espanhola, a pele bronzeada naturalmente, ainda que doentiamente pálida dava-lhe ainda mais precisão a sua descendência. Olheiras vincadas e profundas, como que saídas de um filme de terror, lhe emolduravam os olhos grandes e redondos, os cabelos mal cortados lhe denunciavam, junto às roupas, uma origem medíocre, ou então total desleixo pela aparência. Os cabelos eram lisos, sujos, escuros como o breu que acompanhava seu espírito, caindo até abaixo das orelhas, vagarosos e pesados, como se nem eles mais quisessem pertencer a aquela eternidade hostil e nojenta. Era muito pequeno em estatura, pouco passava de um metro e meio.
Ostentava um peito largo e uma capacidade muscular bem alta. O peito era coberto por uma camisa pólo, amarela, extremamente desbotada e fina, como se a muito não largasse daquele corpo em que os anos passavam com indiferença. Nas pernas uma calça jeans azul, tão surrada e maltrapilha quanto a camisa. E nos pés um tênis velho da “Fila”, modelo anos 80, preto.
Resmungou um pouco antes de se sentar ao balcão, deixando os ombros caírem distraidamente por sob o corpo, como se não agüentassem mais o peso dos anos. Soltou um breve som, algo que lembrava estranhamente o coaxar de um sapo, muito alto e sonoro, só então se encaminhou ao garçom, que o olhava de maneira intrigada e levemente desprezível. – Pois não senhor? – perguntou o garçom educadamente, fazendo seu trabalho de forma comprometida, ainda que ansiasse por estar lá fora, fumando um de seus bons cigarros, e comendo qualquer puta que lhe aparecesse na frente.
Sim, Juarez Mendes sabia! Apesar da aparência de quarentão, era um homem sábio e muito vivido, e aproveitava de toda a experiência para ganhar a vida dando conselhos desajeitados, e muitas vezes enganosos, a eterna briga por uma bola de dinheiro que insistia em não parar em seu bolso. – Me vê uma cerveja, bem gelada, e anota porque hoje eu não pago. – disse distraidamente ao garçom, a voz roufenha ecoando na taverna toscamente iluminada e mal freqüentada.
O garçom o olhou com cara intrigada, e só então, depois que Juarez arremessou um bolinho de papel na mesa, foi que o mesmo consentira em lhe servir a bebida. Olhou ao redor brevemente, coaxando, ou assim parecera, uma vez mais, antes de receber a bebida estupidamente gelada, em um copo suado e lacrimejante.
Não iria bebê-la. Não estava com vontade e nem disposição para beber, apenas queria uma companhia para suas mãos frias, alguém que também estivesse morto como ele, e nada melhor, que um pouco de bebida para lhe ajudar naquele momento tão difícil. Afinal, não era ela a causa mortis mais bela que conhecia?
Viu seus três “amigos” se aproximarem, tomarem acento e se acomodarem de forma a se preparar para o espetáculo. Estava iniciado ali, mais uma rodada de loucuras, e esta, na conta do espanhol. Todos pareciam ansiosos por saber um pouco mais do cainita mais antigo entre eles, todos exceto Hugo, que parecia imerso em sua juventude perdida, e também imerso em medo quanto ao que poderia ouvir a partir daquele momento.
Juarez recostou-se brevemente em sua cadeira, então eles queriam que ele lhes contasse a sua história, a história que tentava guardar de si mesmo há tanto tempo... Olhou as roupas surradas que carregava no corpo, o copo de bebida já quente em suas mãos, e a vontade louca de viver que pulsava em suas veias mortas e destruídas pelo tempo que o castigava.
Sugou brevemente o ar que não mais preenchia seus pulmões, e o expeliu, como uma simples e bucólica lembrança dos primeiros anos de sua existência no mundo cruel que descobrira ser aquele antro. Jogou-se a frente, encarando o francês, fundo naqueles olhos azuis. Passou brevemente pelo alemão, que de forma alguma lhe chamava a atenção, apesar da repulsa eminente que possuía por aquele jeito e ar de superioridade que o demônio carregava. E por último, fitou o britânico, com uma vontade louca de lhe cuspir no terno caro, e na carteira lotada de dinheiro roubado do bolso de todos que já lhe cruzaram o caminho.
- Vocês são vermes, da pior espécie, vocês brincam com a maldição que os assola como se brincassem de faz-de-conta quando tinham oito anos de idade. Desagrada-me dividir a mesa com vocês, e soy muy vivido para perder mi tiempo con ustedes. No entanto, como vocês têm sido companheiros inestimáveis para boas conversas, lhes cederei à história de minha vida, por mais longa e enfadonha que seja. Julgo por bem chamarem o garçom agora, pois não terão tempo mais esta noite, a história será longa, demorada, e vai lhes custar mais do que atenção para assimilá-la em sua magnitude e importância. E esta também explicara do que sou capaz, tudo que já fiz, e tudo aquilo que jamais irão conhecer de mim. Julgam a si mesmos como monstros, pois bem, eu lhes mostrarei a besta encarnada, ainda que sob meu total e impiedoso controle.
Uma vez mais ele se recostou, e como um entediado narrador, começou lentamente a desfilar os fatos, as nuances de seu passado frio e impiedoso, ao qual ele fora vítima desde o princípio, e só depois de anos, conseguira traçar seu caminho para a liberdade.
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- Era um pobre coitado, o ano era 1529 e eu nada tinha exceto um lote inútil de terra em que vivia com minha mulher, meus dois amados filhos e meu pai. Fora duro manter aquelas Terras, ainda que fossem bem afastadas de qualquer centro urbano mais desenvolvido. As brigas constantes entre nós, camponeses, levavam a nossa presença a ser notada e desta forma, éramos perseguidos por nossas crenças ditas pagãs. – Juarez coaxou, olhando ao redor como esperando ver algo que os outros não percebessem, mantinha o tom sério, ainda que aparentasse agora um pouco mais de descontração.
- Neste ano aconteceram talvez os fatos mais felizes de minha vida, e tudo transcorria de forma muito tranqüila. Havíamos findado as disputas territoriais, unindo os camponeses em uma grande sociedade, algo inovador para nós, criamos muito em pouco tempo, e no início de 1530 já possuíamos uma sede bem equipada e um santuário para os nossos deuses. Porém nossa glória foi igualmente nossa derrocada, ao invés de aproveitarmos os frutos de nosso árduo trabalho, a corte, sabendo da empreitada pelo nosso bem estar, enviou o hoje conhecido por tribunal da Santa Sé, outrora a tão difamada inquisição.
Neste ponto Juarez parou e respirou fundo antes de prosseguir em sua narrativa, o corpo tremia involuntariamente, ainda que a frieza dos anos o tivesse calejado contra sentimentos tão mortais, ele agora os sentia, e a dor que causavam era intensa demais para ser esquecida. Levou a mão ao peito esquerdo, como se ali houvesse uma lembrança muito forte de seu passado.
- Eles vieram, e fizeram o que sabem fazer de melhor, prenderam a todos, acusados de pacto com o demônio, e nos obrigaram a confessar crimes que nem sequer pensávamos em cometer. Minha mulher foi estuprada ao meu lado, por um senhor que jurava santidade perante a cruz, porém que crucificava com dor a alma de minha esposa. Sim, meus caros, a alma, pois o corpo belo que me lembro foi destruído por torturas intermitentes. Vi com estes olhos abençoados com a eternidade, minha amada perder ambos os seios, perder os cabelos, e beijar a cruz antes de ser enforcada diante de um povo eufórico.
Teria chorado se não fossem suas pálpebras tão adormecidas e seu corpo tão morto. Nem se dera ao trabalho de ficar triste ou relutante em prosseguir, com o tempo aprendera que o passado ocorre para prevenir fatos do futuro. Com aquele fato, ele aprendera a nunca mais amar, e estava feliz por ser tão inócuo a sentimentos. Era a sua fortaleza perante as trevas que insistiam em não lhe engolir por inteiro, o deixando no limbo entre a existência e a total solidão.
- Meus filhos, como soube alguns anos mais tarde, foram acusados de serem cria do demônio, e foram mortos em segredo, na cela ao lado da minha, não lembro de ter ouvido os gritos deles, espero que tenha sido indolor. – Olhou para o teto, não se lembrava do nome dos filhos, e muito pouco de suas feições, era um passado tão distante, que lhe era custoso demais forçar o cérebro para imagens tão inúteis – Fui torturado durante um mês inteiro, a partir daquele momento, e nada tinha por companhia exceto os sapos que invadiam minha cela, e saiam, quando bem queriam.
- Sim, aqueles eram meus companheiros de cárcere, com a diferença singela de que eles eram livres e eu um preso. Os invejava para ser sincero, e até hoje julgo ter perdido a razão naquela cela, os invejava por serem livres, assim como invejava tantas outras coisas. Invejava inclusive o Deus que os torturadores usavam para me ferir, os meus deuses não declaravam a morte de meus parentes e nem davam ordens de tortura. Já o Deus que se apoderava de meu corpo a cada nova sessão de sofrimento, este era um ser supremo, pois os homens cometiam as maiores atrocidades em seu nome, há de se ser muito bom e piedoso para perdoar os pecados de quem mata por prazer a uma cruz.
- Bom, fui sentenciado à morte na fogueira, já que não aceitei me redimir dos pecados que nem em sonho cometi. Já estava entrando em total desespero, quando o inacreditável aconteceu, mais que isso, a minha redenção surgiu. Um homem entrara com estardalhaço no alojamento de celas, parecia sob efeito de uma fúria impossível, e fez coisas que ser algum faria. Não pude deixar de pensar nas mais diversas ironias, afinal, aqueles homens procuravam o demônio, em cada um dos muitos que estavam presos naquelas celas, e quando menos esperavam, o demônio em pessoa resolvera lhes dar as boas vindas, da forma mais grotesca que se pode imaginar, os matando, banhando-se em sangue fresco e gozando do frenesi que o dominava.
- Eu vi ele se apossar de cada corpo, de cada alma, de cada gota daquele suco até então indigesto. Vi também ele se acalmar, ajoelhar-se no chão, falar uma seqüencia infindável de palavras cujo significado eu desconhecia e também não procurava descobrir. Ele se ergueu e veio em minha direção, no medo de perder o que me era tão caro algumas horas antes do previsto, me acuou, e logo me pus a conversar em desespero com meus sapos, e eles relutavam em me responder, talvez mais apavorados que eu. – Juarez olhou o rosto dos demais, todos expressando feições de descrédito, antes de continuar.
- Ele abriu minha cela, e me perguntou se eu tinha vontade de viver, obviamente lhe disse que sim, intensificando minha ânsia por continuar a rechear as fileiras dos miseráveis deste mundo. Estava sem companheiros, mas tinha ainda minha alma no corpo, e não pretendia deixá-la ir, sem que houvesse muita batalha. Mas o homem em minha frente estava decidido a achar uma resposta que realmente me convencesse, e insistiu na pergunta. Jamais me esqueço das palavras: “E por quanto tempo sua vontade irá durar?”, e eu ingenuamente respondi que para todo o sempre, se assim fosse me dado o direito.
- A resposta fora mais inocente do que pode aparentar, a eternidade inexistia, e quis apenas me referir ao resto de minha vida, um erro incrível de escolha de palavras. Ele me resgatou, me levou para sua casa, e lá ele me subjugou e abraçou, me deixando a mercê da vontade de dois deuses, meu novo senhor, e a besta que ele implantara em meu íntimo, a besta que vi na face de meu mestre na noite em que o conheci.
- Como podem ver, a partir das noites que se seguiram, eu comecei a ser treinado pelo demônio, para me tornar igual. Ora, se Deus era o ser que me fizera sofrer daquela maneira, só havia uma pessoa a quem adorar, a única que antagonizava este Deus. O Demônio que eu chamava de mestre, cuidou-me até meados de 1600, quando, em uma excursão naval, eu e ele rumamos para a recente América Espanhola.
Juarez respirou, como que tentando lembrar, ou resumir, uma quantidade imensa de fatos, que iam muito além da compreensão de qualquer um deles ali presentes. Vasculhava seu cérebro, entorpecido pela cerveja e pelo álcool recém ingerido, em busca de algo que pudesse ser dito sobre aquela viagem, que fora a pior de sua vida. Por relances se lembrou da seita que o abordara, e do terror que sentira, ao ver que apesar de demoníaco, seu respeito à vida humana era considerado angelical ante a monstruosidade dos que lhe eram apresentados.
Como que lendo os pensamentos do antigo, e talvez de fato o estivesse, o poeta francês virou-se para o espanhol, com um olhar luminoso implantado em seus olhos azuis, e disse com sua voz límpida e melodiosa. - Dites-moi, vieil ami, avez-vous rencontré le sabbat? (Diga-me, velho amigo, você se encontrou com o Sabá?). O espanhol, quase que escarrando as próprias palavras, soltou um debochado “Wee”, contra o francês ridículo do poeta.
- Me encontrei com os pestilentos, sim. Eles eram os donos de três dos quatro navios que rumaram para a América, estavam em busca de sangue de lobisomem, dito haver em abundância pelas terras dos velhos Incas. Bom, resisti a eles, assim como resisti a muitos outros. Mas que diferença faz? Vocês só querem saber de minhas desgraças mesmo, continuemos com elas. – Tomou um longo gole de cerveja e fitou a todos. As expressões não poderiam ser mais curiosas, exceto pelo pobre Hugo, que parecia assustado demais com aquele mundo que entrara sem receber o devido convite.
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2 comentários:
Oi meu migux du core tb bein c vx, adrei u blog tah bjuxxxx!!
OW, MUITO BOM KARA! TENHO UM BLOG DE CONTOS DE CRIATURAS NOTURNAS, ENTRA COMO SEGUIDOR LÁ, EU RETRIBUIREI (ME AVISA QUE ENTROU):
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